Está de quarentena? Aproveite o céu noturno! Tem até cometa pra observar!
Em plena pandemia, em isolamento social horizontal, venho sugerindo a quem quiser e se interesse por astronomia para aproveitar e ver o céu sem sair de casa, do quintal ou até mesmo pela janela. É seguro, nos remete às nossas origens cósmicas, nos acalma, e nos ajuda a passar de forma mais serena por este período difícil para toda a humanidade e, em particular, para o Brasil. Até criei a hashtag #astroisolamento para divulgar minhas ações nas redes sociais. Veja, lá no rodapé deste texto, links para outras publicações nesta mesma linha.
O planeta Vênus continua dando show ao entardecer, perto do horizonte oeste, lado do Sol poente, logo que o céu começa a escurecer. Marte, Saturno e Júpiter nascem no começo da madrugada e podem ser vistos quase que alinhados na direção vertical aparente, logo acima do horizonte leste, lado do Sol nascente. Está muito fácil encontrá-los no céu!
Teremos nesta semana a Lua Cheia no perigeu, o que muitos chamam de "Superlua" por estar ligeiramente maior e mais brilhante por conta da aproximação com a Terra.
Tem muita coisa para ver no céu. Temos até um novo cometa "de brinde". Trata-se do C/2020 F8 Swan, descoberto em 25 de março deste ano a partir de imagens da câmera Swan, da sonda Solar Heliospheric Observer. Ao longo desta semana ele estará visível logo "abaixo" de Marte, no horizonte leste, a partir de 4h (horário de Brasília).
A boa notícia é que o C/2020 F8 Swan, como esperado com todos os cometas, evoluiu com a sua aproximação com o Sol e já tem uma boa cauda¹. A má notícia, porém, é que ele ainda está abaixo do limite de visão humana e, para ser visto, requer pelo menos um binóculo ou um telescópio que propiciem aumento e maior captura de luz. Também é possível fotografá-lo com uma câmera fixa em tripé e uma ou mais imagens de longa exposição para serem trabalhadas depois para mostrar que o astro, ainda que "longe dos olhos", está lá. Foi o que tentei fazer nesta madrugada, mas não consegui por conta da névoa que havia no céu, especialmente perto do horizonte, bem onde estava o cometa. Mas vou continuar tentando nas próximas madrugadas, ao longo desta semana.
Talvez o cometa fique maior e mais brilhante mas, como para nós do hemisfério sul ele caminha "para baixo", só estará acima do horizonte depois que o Sol já tiver nascido. Ou seja, não poderemos mais observá-lo daqui do Sul do equador.
Na madrugada de ontem, Cristovão Jacques, astrônomo do Sonear (Southern Observatory for Near Earth Asteroids Research²), observatório astronômico brasileiro que fica em Oliveira, Minas Gerais, fez uma fantástica live e conseguiu mostrar o cometa Swan em tempo real operando os telescópios remotamente. A belíssima imagem lá do topo do post é uma delas. E a live, que está gravada no canal AstroNEOS recém inaugurado por Jacques, deixo para você logo abaixo. É só dar play e aproveitar! Vale a pena ver o que é possível fazer hoje com a tecnologia de telescópios e as câmeras CCD dedicadas à astrofotografia.
Faça como eu: inscreva-se no canal AstroNEOS. Acione o sininho para as notificações. E viaje com o trabalho fantástico do Cristóvão Jacques e do Sonear. Estou sempre ligado em tudo o que está rolando por lá! Aprendo e me divirto bastante.
Se for tentar observar o cometa, procure por ele visualmente abaixo de Marte, uns 20 graus acima do horizonte leste, como na simulação abaixo, onde o cometa está indicado pela mira vermelha em cruz.
Mas preste atenção ao fato de que mas próximas madrugadas o cometa estará cada vez mais baixo, mais perto do horizonte e, consequentemente, gradativamente mais difícil de ser observado.
Boas observações!
#Astroisolamento #FiqueEmCasa #OlheParaOCéu
Abraço do prof. Dulcidio! Física e Astronomia — sempre com muita sensatez científica — na veia!
¹ Cometas possuem material volátil que, com a aproximação com o Sol, sofrem aquecimento gradativo e vão se soltando, formando ao redor do núcleo sólido uma nuvem chamada de coma ou cabeleira. O fluxo de partículas emanadas pelo Sol, conhecido como vento solar, "sopra" parte da coma para o espaço, criando a cauda do cometa. Assim, um cometa que é originalmente um astro pequeno e frio, difícil de ser visto, cresce em diâmetro visível e brilho aparente ao aproximar-se do Sol, e ainda pode ostentar uma longa cauda que se estende por uma vasta região do céu.
² Como sugere o nome, o Sonear é um observatório dedicado à descoberta de asteroides e outros objetos próximos à Terra. O equipamento funciona remotamente, varrendo regiões pré determinadas do céu em busca de novos objetos, os NEO (Near Earth Objects). O Sonear já tem uma vasta coleção de novos asteroides e até de cometas lá descobertos. E, segundo me informou Jacques, vem novidade quentíssima por aí, só aguardando oficialização!
Já publicado aqui no Física na Veia!
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