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Física na Veia

Caçar Pokémons? Ou caçar planetas?

Prof. Dulcidio Braz Júnior

05/08/2016 17h28

pokemon_planetas

Fotomontagem: logomarca original do game onde foram inseridos planetas

 

Chegou ao Brasil, na última quarta-feira (3/agosto), o Pokémon Go, game para dispositivos móveis que rodam os sistemas operacionais Android ou iOS.

O jogo virou "febre mundial". E aqui no Brasil já era bastante aguardado. É claro que os desenvolvedores se moveram para tornar o game funcional no país  a tempo de pegar carona no agito internacional das Olimpíadas que começam oficialmente hoje.

O aplicativo parece ser divertido. Ele usa o sinal de GPS do dispositivo para saber onde o jogador está. E o que parece ser o mais legal: explora a realidade aumentada, recurso que permite, através da câmera, fundir o mundo real — onde você e eu vivemos — ao mundo virtual — onde supostamente habitam os monstrinhos. A ideia do game é rastrear e encontrar os pokémons que, invisíveis aos nossos olhos, podem ser vistos pela tela do smartphone ou tablet. Assim, os pokémons podem aparecer no sofá da sala da sua casa ou ao lado de um monumento na praça central da cidade. E, uma vez capturados, ficam guardados no Pokédex, uma espécie de cativeiro onde podem ser treinados a fim de que evoluam, exatamente como no desenho animado que deu origem ao jogo.

Nada contra games. Os primeiros, bastante rudimentares, para jogar na TV, surgiram quando eu tinha 18 anos, nos anos 80. Os vi evoluírem. E ficarem cada vez mais realísticos e interessantes. Saltaram para os computadores pessoais. Hoje rodam em smartphones e tablets que são poderosos computadores pessoais portáteis que podemos carregar no bolso. Mas devo me confessar bastante assustado com o desproporcional sucesso do Pokémon Go que está levando adultos à uma verdadeira jornada internacional de infantilização. Se usado como passatempo, com qualquer outra forma de entretenimento, o jogo pode ser divertido e render bons momentos de descontração. Mas parece que, para alguns marmanjos, possivelmente para jovens e até para crianças, o game tem tudo para virar vício. E aí a coisa muda de figura.

Também assusta-me, como educador, o enorme nível de interesse das pessoas, em especial dos jovens, pelos games. Há uma enorme assimetria quando esse interesse é confrontado ao baixíssimo interesse pelos estudos e outras atividades edificadoras e, supostamente, mais relevantes.

Quer um exemplo palpável? Desde o final de julho e ao longo do mês de todo o mês de agosto, logo ao entardecer e no começo da noite, podemos observar simultaneamente e praticamente numa mesma região do céu os únicos cinco planetas visíveis a olho nu: Mercúrio, Vênus, Marte, Júpiter e Saturno. E ainda teremos a participação especial da Lua crescente durante alguns dias. Embora espalhados ao redor do Sol, em órbitas não coplanares, vistos daqui da Terra os planetas estarão mais ou menos alinhados. Para quem nunca viu ou reconheceu um planeta a olho nu, a experiência é marcante. E divertida. Tanto quanto um game. Mas, apesar de várias matérias que divulgaram o fenômeno, não tenho visto muita gente gastando energia para virar o pescoço ligeiramente para cima com a intenção de olhar o céu ao final da tarde.

A astronomia, dentre outras tantas, perde feio para os  Pokémons! E olha que, para ver os planetas, nem é preciso ter smartphone ou tablet. Você sequer precisa instalar um aplicativo. Basta procurar um lugar com bom horizonte oeste, exatamente do lado que o Sol se põe, preferencialmente longe das luzes da cidade, e esperar o dia escurecer. E lá estarão os cinco planetas, quase fazendo pose e aguardando o seu olhar ou, quem sabe, um clique fotográfico.

Se quiser brincar com planetas e mais o recurso da realidade aumentada, assim como no Pokémon Go, existem aplicativos que permitem apontar um dispositivo móvel para o céu e ver, em tempo real, pela tela, os nomes dos astros. Um deles, bastante famoso no mundo do iOS, é o Sky View.

Ao contrário do game, típico do mundo fast food aceleradíssimo em que vivemos, observar o céu é um momento tipicamente slow, de contemplação e introspecção. Deve ser divertido caçar pokémons. Não sei dizer porque ainda não o fiz. Mas devo confessar que, quando posso, bato uma bolinha no computador no Fifa 2014 (ainda não o atualizei o game para versão mais recente). Mas precisamos tirar o pé do acelerador! Relaxar. Ligar menos as telinhas dos dispositivos móveis e olhar mais para o céu, o que é sempre relaxante e muito instigante.

Que continuem as caçadas aos pokémons! Ratifico: nada contra os games. Mas que, para equilibrar a balança, as pessoas, em especial as crianças e os jovens, cada vez mais saiam a campo para caçar planetas e outros astros!

 

Simulações

Para ajudá-lo na astro caçada aos cinco planetas que segue pelo mês de agosto, confira abaixo as simulações do céu para o horário das 18h45min desde hoje, 5 de agosto até o próximo dia 20 de agosto. Embora as simulações tenham sido feitas para a minha cidade, São João da Boa Vista, interior de São Paulo, elas dão uma boa ideia da configuração dos astros para qualquer observador ao longo de todo o território brasileiro. Somente o tempo exato das observações é que deve mudar ligeiramente dependendo da latitude/longitude do observador.

Se preferir fazer as suas próprias simulações para o céu da sua exata localização, o que é ainda mais divertido, instale o Stellarium, planetário gratuito e de código aberto.

Boas observações. E céu limpo a todos!

 

5/agosto/2016 – 18h45min

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Simulação do céu para 5/agosto/2016. Clique para abrir versão maior.

6/agosto/2016 – 18h45min

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Simulação do céu para 6/agosto/2016. Clique para abrir versão maior.

7/agosto/2016 – 18h45min

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Simulação do céu para 7/agosto/2016. Clique para abrir versão maior.

8/agosto/2016 – 18h45min

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Simulação do céu para 8/agosto/2016. Clique para abrir versão maior.

9/agosto/2016 – 18h45min

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Simulação do céu para 9/agosto/2016. Clique para abrir versão maior.

Para as demais datas, clique nos links abaixo:

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Para saber mais sobre o Pokémon Go

  • Matéria do UOL Tecnologia: "Entenda a realidade aumentada, recurso por trás do sucesso de Pokémon Go"

Já publicado no Física na Veia!

Sobre o autor

Dulcidio Braz Jr é físico pelo IFGW/Unicamp onde atuou como estudante e pesquisador no DEQ – Departamento de Eletrônica Quântica no final dos anos 80. Mas foi só começar a lecionar física para perceber que seu caminho era o da educação. Atualmente, além de professor, é autor de material didático pelo Sistema Anglo de Ensino / Somos Educação e pela Editora Companhia da Escola. É pioneiro no Brasil no ensino de Relatividade, Quântica e Cosmologia para jovens estudantes do final do ensino médio e início do curso superior. E faz questão de dizer que, aqui no blog, é professor/aluno em tempo integral pois, enquanto ensina, também aprende.

Sobre o blog

"O Física na Veia! nasceu em 2004 para provar que a física não é um “bicho papão”. Muita gente adora física. Só que ainda não sabe disso porque trocou o conteúdo pelo medo. Se começar a entender, vai gostar. E concordar: a Física é pop! Pelo seu trabalho de divulgação científica, especialmente em física e astronomia, sempre tentando deixar assuntos árduos mais leves sem jamais perder o rigor conceitual, o Física na Veia! foi eleito por um júri internacional como o melhor weblog do mundo em língua portuguesa 2009/2010 pelo The BOBs – The Best of Blogs da alemã Deutsche Welle."