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Finalmente capturei o C/2014 Q2 Lovejoy!

Prof. Dulcidio Braz Júnior

14/01/2015 00h38

Cometa C/2014 Q2 Lovejoy capturado com câmera digital (sem telescópio). Clique para abrir
em resolução maior noutra janela.

 

Hoje, por volta das 21h, tentei observar o cometa C/2014 Q2 Lovejoy. Quando tudo parecia que finalmente iria dar certo, uma névoa rala foi se condensando e cobriu o céu com um "véu esbranquiçado".  Frustração total!

Mas quem gosta de observar o céu tem que ser persistente. Havia um vento suave e imaginei que o céu poderia limpar. Voltei pro meu apartamento e aguardei uns 40 minutos. Vi pela janela que o céu estava começando a melhorar. Tornei a descer e fui para um terreno ao lado do meu condomínio, onde há menos luz.

Assim que minha visão se adaptou ao céu local, procurei o astro com um binóculo. Eu já sabia onde ele estaria (veja post anterior com dicas para encontrar o Lovejoy no céu). Depois, com uma câmera digital fixa num tripé, fui fazendo shots literalmente no escuro. Eu não via nada no visor da câmera! Foi tudo no chute,  variando parâmetros, ajustando a mira, depois o zoom, …, até que o cometa verdinho foi registrado. Daí para frente só alegria. Fiz várias imagens.

Veja abaixo o "incrível" equipamento que usei: câmera digital Sony DSC HX100V (semiprofissional).

Câmera digital Sony DSC HX 100V que usei na captura do C/2014 Q2 Lovejoy

 

As exposições pra valer foram de 5 s e também de 8 s, com ISO 1000. Pela primeira vez usei o software DSS – DeepSkyStacker (gratuito) para empilhar/processar diversos frames separados. O software integra várias imagens, criando um efeito de mais longa exposição. E analisa pixels que possam representar ruído do CCD, eliminando-os. Astrônomos profissionais trabalham com CCDs resfriados, para minimizar o ruído. O DSS opera um pequeno milagre e consegue driblar bastante o ruído eletrônico da captura digital. Muito útil!

Confira abaixo um dos seis frames brutos que usei para gerar a imagem processada lá do topo do post. Note que sem o processamento a imagem é muito menos nítida. Mas é bom deixar claro que o processamento do software não cria nada. Ele soma vários frames e elimina ruídos. Em outras palavras, tem algoritmo "inteligente" para preservar o que presta e eliminar o que não presta. Santo programinha para Astrofotografia! Não é por acaso que ele é bem famoso entre os astrônomos amadores.

Um dos frames da captura do cometa, sem processamento pelo DSS.

 

As estrelas, bem como o cometa, aparecem nas imagens como um risquinho (e não como um pontinho). É que não tenho equipamento de guiagem, ou seja, com motor de passo que permita compensar a rotação da Terra, mantendo os astros sempre na mesma posição dentro do campo visual da captura. Usei um tripé fixo que, na prática, por não ser tão profissional, também não é tão fixo assim. Disparei a câmera com retardo programado para minimizar oscilações. Mas meu equipamento é bem simples e não dá para fazer milagre!

Imagino que seja possível, com as mesmas imagens que capturei hoje, chegar a um resultado ainda melhor. Como eu disse, foi minha primeira vez no DSS que tem muitos recursos que nem sei como usar. Fui meio na intuição. Com calma, com mais tempo, vou tentar novos processamentos para aprender a usar esse novo brinquedinho!

E você? Já conseguiu ver o cometa Lovejoy? Fez registros fotográficos? Deixe aqui seus comentários compartilhando conosco as suas experiências!

Já estou sabendo por comentários, por e-mail, e até pelas redes sociais que vários leitores, a partir das minhas dicas, conseguiram observar o C/2014 Q2 Lovejoy e até fotografá-lo. Sensacional!

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Bons céus para todos nós! Boas observações!


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Sobre o autor

Dulcidio Braz Jr é físico pelo IFGW/Unicamp onde atuou como estudante e pesquisador no DEQ – Departamento de Eletrônica Quântica no final dos anos 80. Mas foi só começar a lecionar física para perceber que seu caminho era o da educação. Atualmente, além de professor, é autor de material didático pelo Sistema Anglo de Ensino / Somos Educação e pela Editora Companhia da Escola. É pioneiro no Brasil no ensino de Relatividade, Quântica e Cosmologia para jovens estudantes do final do ensino médio e início do curso superior. E faz questão de dizer que, aqui no blog, é professor/aluno em tempo integral pois, enquanto ensina, também aprende.

Sobre o blog

"O Física na Veia! nasceu em 2004 para provar que a física não é um “bicho papão”. Muita gente adora física. Só que ainda não sabe disso porque trocou o conteúdo pelo medo. Se começar a entender, vai gostar. E concordar: a Física é pop! Pelo seu trabalho de divulgação científica, especialmente em física e astronomia, sempre tentando deixar assuntos árduos mais leves sem jamais perder o rigor conceitual, o Física na Veia! foi eleito por um júri internacional como o melhor weblog do mundo em língua portuguesa 2009/2010 pelo The BOBs – The Best of Blogs da alemã Deutsche Welle."