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Física na Veia

Amanhã teremos Trânsito de Mercúrio

Prof. Dulcidio Braz Júnior

08/05/2016 15h14

Antes de qualquer coisa, uma informação importantíssima!

Nunca olhe diretamente para o Sol, mesmo a olho nu. Observações solares são sempre perigosas.
Usando instrumentos ópticos (monóculos, binóculos, lunetas, telescópios,…) o perigo aumenta exponencialmente! Tais instrumentos foram projetados para coletar e concentrar a luz visível além de outras frequências da radiação solar invisível. Se toda essa energia concentrada atingir o seu olho, há risco severo de danos irreversíveis à diversas estruturas do globo ocular, especialmente para a retina, a parede de células nervosas sensíveis à luz que fica no fundo do olho e funciona como o biossensor fotossensível capaz de registrar a imagem que será enviada para o cérebro. Danos à retina podem acontecer em questão de segundos! Nem dá tempo de sentir dor e você pode ficar cego! Nem com filtros "caseiros" você deve tentar olhar para o Sol.  

Dito isso, certo de que você não vai colocar a saúde dos seus olhos em risco, vamos ao post!

Sist_Solar_9maio2016

Simulação da região mais central do Sistema Solar mostrando Mercúrio (1) e Vênus (2) com órbitas
internas à da Terra (3).

 

Vez ou outra, os dois planetas internos do Sistema Solar, Mercúrio (1) e Vênus (2) podem se colocar entre o Sol e a Terra (3), formando um alinhamento de astros (veja imagem acima). Esse alinhamento não ocorre com tanta facilidade porque as órbitas dos planetas do Sistema Solar não estão contidas em planos rigorosamente coincidentes.

Daqui da Terra, quando isso ocorre, com instrumentos adequados e seguros (você viu a informação em vermelho destacada lá no topo!) podemos ver o pequeno disco opaco negro do respectivo planeta passando diante do disco super iluminado do Sol. É o que chamamos de Trânsito Solar. A olho nu não dá para ver absolutamente nada porque a intensa luz solar ofusca a nossa visão do minúsculo planeta.

A imagem abaixo, feita pelo satélite SOHO – Solar and Heliospheric Observatory da NASA, projetado para registrar detalhes do Sol, mostra Mercúrio cruzando o disco solar no trânsito de 2006.

Transito_Mercurio_2006_SOHO-NASA

Fotomontagem mostrando várias posições de Mercúrio em trânsito registrado pelo SOHO/NASA
em novembro de 2006.

 

Trânsitos de Mercúrio ocorrem 13 vezes a cada 100 anos. Trânsitos de Vênus, muito mais raros, 4 vezes a cada 243 anos.

O último trânsito de Mercúrio aconteceu em 8 de novembro de 2006 e foi coberto pelo Física na Veia!. Naquela época, usando um filtro solar caseiro para minha câmera digital que tinha zoom óptico (real) de 12x e sensor de 5 megapixels de resolução, consegui, ainda que de forma precária, registros fotográficos do fenômeno que você confere nesse post. Por questões de segurança, o filtro caseiro, uma verdadeira gambiarra, foi usado apenas na câmera digital e não no meu olho, pelas razões já apontadas lá no topo do texto (se ficou curioso, entenda a gambiarra, mas só a reproduza se for para usar numa câmera digital!).

O último trânsito de Vênus ocorreu em 5 de junho de 2012. Mas aqui no Brasil era noite enquanto o fenômeno ocorria. Logo, como não víamos o Sol, não foi possível observar o trânsito diretamente. O Física na Veia! fez cobertura de fenômeno com imagens de terceiros.

Vênus é bem maior do que Mercúrio. E, num trânsito solar, Vênus, o segundo planeta do Sistema Solar, fica bem mais perto da Terra do que Mercúrio. Isso faz com que o tamanho aparente do disco negro de Vênus seja bem maior do que o disquinho escuro de Mercúrio que é quase pontual do ponto de vista terrestre. Lembro-me de que na cobertura do Trânsito de Mercúrio em 2006 eu não conseguia ver ao vivo, na telinha LCD da câmera, o disquinho de Mercúrio. Ele era menor do que o pixel da tela! Tive que disparar fotografias aleatoriamente, variando parâmetros da câmera para, na pura sorte, conseguir alguma imagem real do fenômeno. Acabei conseguindo. Mas foi na raça!

Amanhã, segunda-feira, 9 de maio de 2016, em todo o território nacional, teremos o privilégio de acompanhar um trânsito de Mercúrio que terá início pouco depois das 8h (horário de Brasília). Na primeira imagem lá no topo do post, a simulação das posições dos astros foi feita exatamente para o dia 9/maio/2016. Note que o Sol, Mercúrio e Terra estarão alinhados, com Mercúrio entre os dois. E por isso mesmo, daqui da Terra, Mercúrio passará diante do Sol. Quero repetir a cobertura do fenômeno, agora com câmera de maior resolução (16 megapixels), mais zoom (30x), e usando filtro astronômico próprio para observação solar, o mesmo que usei para fotografar uma mancha solar (confira nesse post). Espero que dessa vez, com mais zoom, seja possível pelo menos ver o disquinho de Mercúrio contra o Sol, o que facilita bastante a regulagem dos parâmetros fotográficos na câmera. Só vou saber na hora…

Como o trânsito começa logo de manhã, no início do dia aqui no Brasil, o fenômeno (que vai durar cerca de 7,5 h) será observável em todo o território brasileiro do início ao fim. Confira no infográfico abaixo a cronologia completa do evento.

Cronologia do fenômeno (clique para abrir versão maior)

Cronologia do fenômeno (clique para abrir versão maior)

Note que o fenômeno começa quando o pequenino disco escuro de Mercúrio "toca" a borda inferior do Sol por fora (A). Cerca de três minutos depois o disco negro do planeta "toca" a borda do Sol por dentro (B), às 8h15min. A partir daí o planeta estará integralmente diante do Sol, seguindo seu longo caminho que vai durar mais de sete horas. O ponto médio do trânsito ocorre às 12h57min (C). Quando o disco negro de Mercúrio "tocar" a outra borda do Sol por dentro (D), às 15h39min, o fenômeno estará quase acabando. Três minutos depois, às 15h42min, Mercúrio "toca" a borda solar por fora (E) e o fenômeno chega ao fim.

Tentei fazer o infográfico acima mostrando "mais ou menos" as posições relativas Mercúrio/Sol como veremos daqui do Brasil. Mas, depois que o Sol cruzar o ponto mais alto no céu, olharemos para o outro lado do céu para continuar a observá-lo e, obviamente, passaremos a ver o disco solar invertido.

Amanhã, logo cedo, publico outro post chamando para a minha cobertura do evento em tempo real. Vou tentar registrar o fenômeno e, se conseguir, posto as imagens aqui no blog. A previsão do tempo para a minha região não é tão positiva:  parcialmente nublado. Isso pode atrapalhar ou até inviabilizar observações e registro de imagens.

Por garantia, deixarei links para coberturas profissionais do fenômeno que será transmitido em tempo real pela NASA, dentre outros espalhados pela Terra em locais onde o fenômeno também poderá ser visto.

Se você for tentar observações, siga dicas de observação segura do Sol que dei nesse post (ainda na plataforma antiga do blog). Como dito lá no topo, e destacado em vermelho, observações solares sem segurança configuram a mais pura loucura. Sei que a vontade de ver o fenômeno ao vivo é enorme. Mas não corra riscos desnecessários! No vídeo abaixo também há dicas de observações seguras do Sol e do Trânsito de Mercúrio.

Nos encontramos amanhã para a cobertura do evento. Combinado?


Para saber mais

O Céu da Semana (de 2 a 8 de maio de 2016), programa semanal muito bem feito e sob responsabilidade do meu amigo Gustavo Rojas, astrofísico da UFSCar.


Já publicado aqui no Física na Veia!

 

Sobre o autor

Dulcidio Braz Jr é físico pelo IFGW/Unicamp onde atuou como estudante e pesquisador no DEQ – Departamento de Eletrônica Quântica no final dos anos 80. Mas foi só começar a lecionar física para perceber que seu caminho era o da educação. Atualmente, além de professor, é autor de material didático pelo Sistema Anglo de Ensino / Somos Educação e pela Editora Companhia da Escola. É pioneiro no Brasil no ensino de Relatividade, Quântica e Cosmologia para jovens estudantes do final do ensino médio e início do curso superior. E faz questão de dizer que, aqui no blog, é professor/aluno em tempo integral pois, enquanto ensina, também aprende.

Sobre o blog

"O Física na Veia! nasceu em 2004 para provar que a física não é um “bicho papão”. Muita gente adora física. Só que ainda não sabe disso porque trocou o conteúdo pelo medo. Se começar a entender, vai gostar. E concordar: a Física é pop! Pelo seu trabalho de divulgação científica, especialmente em física e astronomia, sempre tentando deixar assuntos árduos mais leves sem jamais perder o rigor conceitual, o Física na Veia! foi eleito por um júri internacional como o melhor weblog do mundo em língua portuguesa 2009/2010 pelo The BOBs – The Best of Blogs da alemã Deutsche Welle."