Qual é a cor do vestido?
Quais as cores do vestido da foto acima? Algumas pessoas dizem que é azul e preto. Outras juram que é branco e dourado. Há quem diga que olhou a foto pela primeira vez e viu azul e preto. Mais tarde, ao olhar novamente, viu um vestido branco e dourado!
Essa foto ficou famosa na internet entre ontem (quinta-feira) e hoje (sexta-feira). A usuária Skiwed do Tumblr publicou a imagem e logo as pessoas começaram a comentar sobre as cores da roupa. Mas os comentários não batiam! E criaram um verdadeiro paradoxo das cores. Não demorou muito para a foto se tornar o principal assunto nas redes.
Que cores você vê quando olha a imagem do vestido? Deixe o seu comentário aqui no blog.
Aproveito a polêmica para tentar dar uma explicação científica para o paradoxo das cores do vestido. Acompanhe o raciocínio a seguir.
A "leitura" das cores na câmera fotográfica
Antes de tudo, uma foto é apenas uma "leitura muito particular" que um equipamento (câmera fotográfica) faz da realidade. Antigamente era um filme fotográfico que registrava a imagem. Hoje em dia são sensores digitais baseados no efeito fotoelétrico .
Essa "leitura" da realidade, seja feita por um filme ou por um sensor fotoelétrico, nem sempre é tão real. Todo mundo já deve ter tido a experiência de tirar uma foto e ela sair amarelada ou azulada demais. Nas câmeras digitais, a grande vantagem é que dá para ver a imagem capturada praticamente em tempo real e já compará-la com a realidade, sem precisar revelar o filme e imprimir a foto em papel.
Uma imagem fotografada depende de vários fatores, em especial da iluminação ambiente. É comum nas câmeras digitais a opção de escolher o tipo de luz ambiente. O software da câmera geralmente possui diferentes calibragens. Há, por exemplo, uma calibragem específica para a luz solar, também conhecida como luz branca real, aquela que é uma mistura de todas cores visíveis do vermelho ao violeta. Há outra calibragem para iluminação com lâmpadas fluorescentes que tendem a esfriar as cores, deixando-as azuladas. E assim por diante.
Em câmeras digitais com mais recursos, existe ainda a calibragem de branco. O fotógrafo mira uma superfície que tem certeza que é branca e faz uma amostra (captura). A amostra de branco pode sair amarelada, azulada, avermelhada… Mas o software da câmera é informado de que aquele padrão de amostra é o branco real. Pelo padrão de branco, o sistema faz uma recalibragem em todas as cores. A partir daí, as cores registradas passam a ser bem mais fiéis à realidade. Sem essa calibragem inicial, há sempre o risco de uma foto não ter muito a ver com aquilo que o fotógrafo estava vendo. Suspeito que a foto do vestido padeça desse problema. A informação é que o vestido, na realidade, tem faixas em azul escuro intercaladas com faixas em marrom escuro, quase preto. Certamente a captura tem problemas de "leitura" de cores.
A "leitura" das cores nos nossos olhos
No caso dos nossos olhos, são os cones e bastonetes, células nervosas que ficam na retina, no fundo do globo ocular, que fazem o registro da imagem. Os cones são especializados em detectar as diferentes cores. Já os bastonetes não diferenciam cores mas, capturando mais e mais luz (a rigor mais fótons), conseguem melhorar o brilho nas imagens.
Mas tem um detalhe importantíssimo: não vemos apenas com os olhos! Os olhos, pela córnea e pelo cristalino, as duas lentes convergentes que possuem, formam uma imagem sobre a retina que é registrada pelos cones e bastonetes. Impulsos nervosos levam informações dessa imagem para o cérebro. E é o cérebro quem vai tentar entender o que estamos vendo.
A imagem óptica no fundo do olho é bastante objetiva e de muito boa qualidade. O cérebro (e seu "software") é quem pode mudar tudo. É que o cérebro sempre dá uma de sabidinho e tenta adivinhar as coisas. Mas numa dessas, como todo metido a sabidinho, pode dar suas bolas fora.
Quando vemos uma foto, como a do vestido, se o cérebro "entende" que ela foi feita em baixas condições de iluminação, naturalmente tenta "clareá-la". O cérebro dá brilho na imagem por conta própria. Mas o cérebro também pode "entender" que a imagem foi feita com luz intensa. Nesse caso, vai no sentido oposto e tenta "escurecer" a imagem.
Para quem olha a foto do vestido e acha que ele é azul e preto, é que o cérebro, por conta própria, deu uma escurecida na imagem. Já para quem vê um vestido branco e dourado, o cérebro deu uma clareada na imagem.
Para entender melhor como é isso, montei o infográfico abaixo. Tirei três amostras de algumas regiões do vestido da foto. Na amostra da esquerda, marcada com um sinal (-), escureci a imagem, tirando brilho através de um software. A amostra do meio é a original, apenas um pedaço da foto, sem tratamento. Na amostra da direita, com um sinal (+), aumentei o brilho da imagem que ficou mais clara.
Note que o azul da imagem original, quando clareado, parece branco. Mas, quando escurecido, parece ser azul bem forte. Já o marrom original, escurecido, fica quase preto. Mas clareado lembra bastante um tom de dourado. O que eu fiz nas amostras acima, usando um software instalado no computador, é mais ou menos que o cérebro faz com a informação que recebe da retina via impulsos nervosos. O cérebro usa o próprio "software" dele que, infelizmente, não vem com manual de instruções. E por isso mesmo nos prega peças!
Outra ilusão, e mais uma vez o cérebro nos enganando
A famosa ilusão de óptica abaixo mostra a silhueta de uma garota girando. Algumas pessoas juram que a garota gira no sentido horário. Outras, ao contrário, acreditam que o giro é no sentido anti-horário. Uma mesma pessoa, se desviar o olhar e voltar a olhar para a imagem, pode mudar de ideia!
A explicação é simples. Como se trata de uma silhueta, não conseguimos saber qual perna da garota (direita ou esquerda) está na frente . Essa informação é decisiva para sabermos se o giro é horário ou anti-horário. O cérebro, espertinho, sempre querendo saber e entender de tudo, arrisca uma resposta. E se baseia nela daí por diante.
No caso das cores do vestido, ao receber a imagem, na dúvida, o cérebro "chuta" mais brilho ou menos brilho. Logo, a interpretação de diferentes pessoas para a mesma imagem, cada qual com o seu próprio cérebro, pode variar e criar um paradoxo!
Entendeu?
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