Cegueira total! Concorda?
Foi mais ou menos como Jean-Luc Picard (na foto acima) que me senti ontem quando soube que o jovem deputado federal Fábio Garcia (PSB), eleito pelo Mato Grosso, vetou o acordo do Brasil com o ESO – Observatório Europeu do Sul.
Em seu perfil no Facebook (confira aqui), o deputado declarou orgulhoso "Solicitamos a retirada de pauta de um acordo que o governo federal fez com a União Europeia que faria o Brasil gastar 800 milhões de reais com pesquisa astronômica. Os astros que precisam ser enxergados no Brasil é o povo brasileiro que sofre com a ausência de saúde, educação e segurança pública de qualidade! Tamojunto!"
Além da estranha concordância ("os astros … é o povo…"), a frase do deputado – que para mim soa mais como demagogia – não explica (ou esconde ou até mesmo ignora) alguns fatos que considero dignos de atenção:
– Os 800 milhões de reais equivalem a dez anos de parceria. Logo, seriam 80 milhões anuais, o que para um país como o Brasil não é nada absurdo;
– O valor inicial foi renegociado e caiu para 200 milhões de euros numa década, cerca de 650 milhões de reais em 10 anos ou 65 milhões anuais, o que torna o acordo ainda mais viável;
– Trata-se de "investimento" (e não "gasto") em Ciência e Tecnologia, área estratégica para um país emergente. A parceria abre portas para a indústria nacional participar de licitações na construção de equipamentos científicos de ponta. E potencializa a formação de cientistas brasileiros;
– Pesquisadores brasileiros já utilizam o ESO por conta de um pré-acordo feito pelo próprio governo federal quando o pesquisador Sergio Rezende, filiado ao PSB, mesmo partido do deputado Fábio Garcia, era ministro da Ciência e Tecnologia. Se o Brasil quebrar o acordo 4 anos depois, já tendo sido beneficiado, pega muito mal para a imagem do país lá fora;
– O ESO vai construir o E-ELT – Extremely Large Telescope, o maior telescópio de todos os tempos. E a participação do Brasil ajuda a viabilizar o projeto que tem relevância científica e tecnológica histórica mundial.
Deixo aqui a minha INDIGNAÇÃO como cidadão brasileiro, físico, educador e divulgador científico. Acho desnecessário detalhar o episódio já que o Salvador Nogueira, meu vizinho na blogosfera científica do UOL, já o fez em texto impecável. Não deixe de conferir!
Convido você leitor a deixar o seu importante comentário sobre o tema.
Uma ação na internet já colhe assinaturas para pressionar o deputado Fábio Garcia a recuar em sua decisão. Você também pode assiná-la se for a favor do acordo Brasil-ESO.
Você também pode (deve) visitar a página do deputado Fábio Garcia no Facebook e deixar lá o seu comentário direto para ele, exatamente no post em que ele mesmo declara seu ato contra o acordo Brasil-ESO. Já deixei lá o meu recado, reproduzido logo abaixo.
Finalizo meu texto observando que, com um "novo" ministro da Ciência e Tecnologia que veio dos esportes (!!!) e tanto político cientifica e tecnologicamente ignorante nesse país, temo que outro importante acordo internacional que envolve a União Europeia e o Brasil junto ao CERN – Organização Europeia para a Pesquisa Nuclear siga pelo mesmo caminho da cegueira absoluta. Desde 2010, quando participei da Escola de Física do CERN em Genebra, Suíça, já estava tudo acertado para o Brasil se tornar membro oficial desse que é o maior e mais importante centro de pesquisas em Física de Partículas do mundo (escrevi sobre esse acordo aqui e aqui e também). Em 2012, diante da inércia do lado brasileiro, Rolf Heuer, então diretor do CERN, chegou a declarar que "o Brasil é muito lento em tomar ações" (veja matéria). Há mais de um ano "só" falta o sim dos nossos políticos (veja matéria da Folha). Mas é justamente aí que mora o perigo!
Para saber mais
- PDF com o parecer da SBF – Sociedade Brasileira de Física sobre a entrada do Brasil no ESO.
Já publicado no Física na Veia!
- [13/10/2014] O que os nossos presidenciáveis pensam sobre C&T?
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