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Física na Veia

Está de quarentena? Veja o "encontro" da Lua com Marte, Saturno e Júpiter!

Prof. Dulcidio Braz Júnior

14/04/2020 14h24

Simulação do céu, horizonte leste, na próxima madrugada de 15/abril. (via software Stellarium)

 

Na tentativa cientificamente sensata de achatarmos a curva de contaminação pelo coronavírus no Brasil, fomos aconselhados a ficar reclusos em casa. O distanciamento social horizontal é o que se mostra mais eficiente neste momento diante deste desafio coletivo que todos temos que enfrentar.

Quem pode trabalhar à distância, tenta de casa, em regime de home office, manter as suas atividades profissionais em pleno andamento.  Com isso, uma grande quantidade de pessoas cumpre quarentena em casa.

Eu, que sou professor, desde o dia 17 de março, com a paralisação das aulas presenciais, trabalho daqui do meu apartamento preparando aulas, gravando aulas em vídeo, ou lecionando ao vivo pela web. Saí pouquíssimas vezes para realizar atividades estritamente necessárias, sempre com segurança, incluindo o uso de máscara e procurando manter distância segura de pelo menos 2 m de outras pessoas.

Tento fazer a minha parte. E recomendo que e você e todo mundo, dentro das suas possibilidades pessoais, colabore também! Mas reconheço, por sentir na pele, que trabalhar em casa sem poder "mudar de ares" é bastante estressante.

Uma das coisas que me acalma e me ajuda a "arejar" a mente, sempre que posso, e independentemente de pandemia, é observar o céu. Por isso lancei neste post a ideia do #astroisolamento, sugerindo que mais pessoas aproveitem para olhar o céu na quarentena, o que dá para fazer com segurança do quintal de casa ou da janela do apartamento, exatamente como eu que moro no terceiro andar faço as minhas observações, embora pela janela esteja sempre limitado a uma região restrita do céu.

Hoje escrevo com outra dica de observação astronômica super bacana: a Lua Minguante vai "se encontrar" com os planetas Marte, Saturno e Júpiter nas próximas madrugadas. Eu até já havia sugerido a observação destes planetas nas madrugadas neste outro post em que publiquei um registro astrofotográfico dos mesmos. Mas a Lua, que passou pela fase cheia em 7 de abril, anunciando a Páscoa (confira neste post), vai nascendo cada dia mais tarde. Desta forma, desde ontem ela já nasce na região do céu visualmente próxima¹ dos citados planetas, num fenômeno astronômico que chamamos de conjunção.

A imagem lá do topo simula o céu no horizonte leste às 2h (horário ode Brasília) da próxima madrugada para a minha cidade. Mas vale, como referência, para outras localidades do Brasil com razoável aproximação. Abaixo mostro uma animação com simulações do céu (horizonte leste) entre os dias 14 e 17 de abril, exatamente as datas em que este curioso "encontro"¹ celeste poderá ser observado.

Céu no horizonte leste entre 14 e 17 de abril, 2h da madrugada. (Simulações feitas com o software Stellarium)

Você pode começar a observar o céu, horizonte leste (lado que o Sol nasce), pouco depois da meia noite. Desta forma vai acompanhando o nascer de cada astro. Também pode acordar mais cedo e, pouco antes do nascer do Sol, procurar pelos astros que, neste horário mais avançado, estarão bem mais acima do horizonte. Também é uma boa ideia!

Fica a dica! Cuide-se! Cuide dos seus! Nos cuidemos todos uns dos outros! E boas observações do céu neste período de #astroisolamento!

 

Abraço do prof. Dulcidio! Física, sensatez científica e todo cuidado, na veia!


¹ O termo "encontro", no título e no texto deste post, está entre aspas. É o mais correto porque os astros estarão apenas visualmente próximos numa mesma região do céu, parecendo se encontrar, mas apenas por efeito de ilusão de óptica porque a olho nu não temos como avaliar a profundidade do campo de visão. Na realidade, os quatro astros estão em distâncias muito diferentes a contar daqui da Terra. A Lua, a mais próxima de todos, está a cerca de apenas 390 mil km. Marte, a seguir, já bem mais distante, a pouco mais de 200 milhões de km daqui. Depois vem Júpiter, a pouco mais de 760 milhões de km de nós. Por fim Saturno, o mais distante, a pouco mais de 1500 milhões (1,5 bilhões de km) da Terra.

Para saber (e se divertir) mais

  • As simulações do céu e das posições dos astro deste post foram feitas com o software Stellarium, planetário desktop gratuito que você pode baixar de www.stellarium.org.

Sobre o autor

Dulcidio Braz Jr é físico pelo IFGW/Unicamp onde atuou como estudante e pesquisador no DEQ – Departamento de Eletrônica Quântica no final dos anos 80. Mas foi só começar a lecionar física para perceber que seu caminho era o da educação. Atualmente, além de professor, é autor de material didático pelo Sistema Anglo de Ensino / Somos Educação e pela Editora Companhia da Escola. É pioneiro no Brasil no ensino de Relatividade, Quântica e Cosmologia para jovens estudantes do final do ensino médio e início do curso superior. E faz questão de dizer que, aqui no blog, é professor/aluno em tempo integral pois, enquanto ensina, também aprende.

Sobre o blog

"O Física na Veia! nasceu em 2004 para provar que a física não é um “bicho papão”. Muita gente adora física. Só que ainda não sabe disso porque trocou o conteúdo pelo medo. Se começar a entender, vai gostar. E concordar: a Física é pop! Pelo seu trabalho de divulgação científica, especialmente em física e astronomia, sempre tentando deixar assuntos árduos mais leves sem jamais perder o rigor conceitual, o Física na Veia! foi eleito por um júri internacional como o melhor weblog do mundo em língua portuguesa 2009/2010 pelo The BOBs – The Best of Blogs da alemã Deutsche Welle."