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Física na Veia

Astrofotografia: como fazer um mosaico da Lua

Prof. Dulcidio Braz Júnior

03/11/2017 14h06

Resultado final do mosaico da Lua (clique na imagem para abrir versão maior)

 

Fazia tempo que eu não observava o céu com o telescópio.

Por conta do meu trabalho de professor/autor de material didático, fico sempre limitado às "folgas" aos finais de semana ou feriados. Às vezes, até nestes dias há trabalho extra para casa. E a agenda ainda tem que coincidir com céu limpo e não "bater" com outros compromissos pessoais. A probabilidade de observações do céu com equipamento que sempre demora um pouco para ser montado e alinhado fica bastante reduzida.

Ontem, feriado, por sorte o céu abriu depois de alguns dias de chuva. Aproveitei a folga (desta vez real) para observar e capturar a Lua que estava linda diante da janela do meu apartamento.

Para registrar as imagens do telescópio, uso a técnica de acoplar uma webcam comum no porta ocular. A webcam usa a óptica (espelho) do telescópio newtoniano (refletor) e, com o sensor digital, registra a imagem nele projetada e a envia para o notebook.

Mas, como o sensor da webcam é bem pequeno, só consigo ver/capturar a Lua parcialmente, como você pode conferir abaixo no print screen da pasta onde as imagens capturadas foram salvas.

As "fatias" capturadas da Lua, salvas numa pasta.

 

A solução para ter uma imagem da Lua por inteiro é juntar as "fatias" via software, compondo um mosaico, como na imagem que abre este post, lá no topo.

Para fazer meus mosaicos lunares, tenho usado o ICE – Imagem Composite Editor, da Microsoft (dica do amigo astrofotógrafo Gabriel Akira Yanaguya). O ICE é freeware e bem fácil de usar. Procure-o pelo Google e vai encontrá-lo facilmente para baixar de fontes confiáveis.

O software, cuja função real é criar panoramas, tem vários ajustes que você pode depois experimentar. Mas, no modo automático, ele faz tudo praticamente sozinho, em quatro passos logo após a escolha e carregamento das imagens. O resultado é excelente.

Confira a seguir o passo a passo do processo de montagem do mosaico.

Passo 1 [Import]: O carregamento das imagens

Você escolhe "New Panorama from images" se for usar imagens estáticas ou "New Panorama from video" se for usar frames de um vídeo. Escolhi "New Panorama from images" porque tinha vários arquivos de imagens estáticas no formato png equivalentes a diversos pedaços da Lua que eu já havia capturado previamente.

Em seguida, escolhida a pasta onde as imagens capturadas estão salvas, é possível vê-las na tela.

Escolhido o tipo de panorama, você escolhe a pasta e o software mostra as imagens nela contidas.

Você pode fazer uma triagem das imagens previamente salvas e escolher somente aquelas que vai usar para compor o mosaico. Eu escolhi todas que havia feito porque estava testando uma peculiaridade técnica (veja nota¹ no final do post).

Usei o ajuste padrão "Simple Panorama" com "auto-detect motion" (menu da direita).

Imagens importadas para dentro do software. Vai começar a parte mais divertida!

É importante ficar claro que, para o software juntar as imagens, elas devem ter partes comuns. Assim o software entende como as imagens deve ser sobrepostas e unidas. Imagens que não apresentam regiões comuns não serão entendidas pelo programa que, obviamente, não faz milagre.

Passo 2 [Stich]: O software analisa e junta as imagens 

Quando você clica na próxima aba "STICH", o sofware começa a fazer o trabalho "pesado" automaticamente por você. Ele junta as imagens de forma inteligente, fazendo as devidas sobreposições de partes coincidentes, as correções de tons e tudo o mais. E vai mostrando a evolução percentual do trabalho. Nessa etapa não dá para ver nada. É só ter paciência e esperar.  Quanto mais imagens usar, mais tempo vai demorar para o processo se completar.

O software trabalhando em silêncio.

Passo 3 [Crop]: O resultado final aparece 

Depois da espera, o resultado final aparece! Agora é hora de fazer o CROP, ou seja, recortar a imagem.

O resultado final, só esperando o crop.

Basta clicar/arrastar com o mouse nas alças (pontos) das linhas brancas do quatro retangular que envolve a imagem (mosaico), definindo exatamente onde a imagem será cortada.

Definição do corte da imagem final.

Passo 4 [Export]: Salvando a imagem final

Clique na aba "Export". E salve a imagem final. Escolha o formato, a pasta/local onde quer salvar. E pronto.

Imagem final, a ponto de ser salva.

A imagem final você pode levar para o seu software de tratamento favorito para dar aquele "tapinha" nos parâmetros que podem melhorar ainda mais os detalhes do mosaico.

É isso! Bons céus! Boas observações! E bons registros astrofotográficos!


1 – Dica interessante: fiz várias imagens redundantes de diversas partes da Lua, mas com controle de ganho/exposição/brilho/contraste da webcam diferentes. O software, ao juntar tudo, faz um ajuste médio dos tons das várias partes para a imagem final ficar homogênea. Como sempre temos partes da Lua mais subexpostas e partes mais superexpostas para um mesmo ajuste da webcam, tive a impressão de que isso ajudou o software a equilibrar melhor os tons. Ainda farei outros testes neste sentido. Mas, preliminarmente, tal procedimento parece ter dado um resultado superior. Vale a pena experimentá-lo.

Já publicado no Física na Veia!

 

Outros posts sobre Astrofotografia, mas sem telescópio (só com câmera digital).

(*) Post na plataforma antiga do blog

Sobre o autor

Dulcidio Braz Jr é físico pelo IFGW/Unicamp onde atuou como estudante e pesquisador no DEQ – Departamento de Eletrônica Quântica no final dos anos 80. Mas foi só começar a lecionar física para perceber que seu caminho era o da educação. Atualmente, além de professor, é autor de material didático pelo Sistema Anglo de Ensino / Somos Educação e pela Editora Companhia da Escola. É pioneiro no Brasil no ensino de Relatividade, Quântica e Cosmologia para jovens estudantes do final do ensino médio e início do curso superior. E faz questão de dizer que, aqui no blog, é professor/aluno em tempo integral pois, enquanto ensina, também aprende.

Sobre o blog

"O Física na Veia! nasceu em 2004 para provar que a física não é um “bicho papão”. Muita gente adora física. Só que ainda não sabe disso porque trocou o conteúdo pelo medo. Se começar a entender, vai gostar. E concordar: a Física é pop! Pelo seu trabalho de divulgação científica, especialmente em física e astronomia, sempre tentando deixar assuntos árduos mais leves sem jamais perder o rigor conceitual, o Física na Veia! foi eleito por um júri internacional como o melhor weblog do mundo em língua portuguesa 2009/2010 pelo The BOBs – The Best of Blogs da alemã Deutsche Welle."