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Física na Veia

Pálido Ponto Vermelho: caça a exoplanetas ao vivo

Prof. Dulcidio Braz Júnior

15/01/2016 19h52

Pale Red Dot

 

Foi oficialmente lançada hoje pelo ESO – European Southern Observatory a campanha Pale Red Dot (Pálido Ponto Vermelho, em português).

Além do caráter de pesquisa, trata-se de uma ação de divulgação científica pois foi montado todo um esquema que permitirá ao público leigo do mundo inteiro acompanhar os cientistas enquanto procuram por exoplanetas do tipo terrestre em torno da estrela mais próximo de nós, a Proxima Centauri.

Tudo acontecerá de janeiro a abril de 2016 e poderá ser acompanhada de perto em textos em blogs bem como em atualizações nas redes sociais.

Segundo Guillem Anglada-Escude, coordenador do projeto, "Queremos compartilhar o entusiasmo da busca com as pessoas e mostrar-lhes como é que a ciência funciona nos bastidores, o processo de tentativa e erro e os esforços continuados que são necessários para conseguir fazer o tipo de descobertas que as pessoas ouvem normalmente nas notícias. Ao fazê-lo, esperamos encorajar mais pessoas para os temas ligados à ciência, tecnologia, engenharia e matemática e à ciência de uma maneira em geral".

Bacana demais, não?

E completou "É um risco envolver o público antes de sabermos o que é que as observações nos dirão — não podemos analisar os dados e tirar conclusões em tempo real. Quando publicarmos o artigo científico resumindo os resultados é perfeitamente possível que tenhamos que dizer que não conseguimos encontrar evidências da presença de um exoplaneta do tipo terrestre em torno de Proxima Centauri".

De fato, não dá para saber qual será o resultado da caçada astronômica. Mas já dá para perceber que, para nós, observadores externos, curiosos e amantes da Astronomia, será tudo no mínimo muito divertido!

As observações serão feitas com o HARPS (High Accuracy Radial velocity Planet Searcher), montado no telescópio de 3,6 metros do ESO no Observatório de La Silla, no Chile. Os dados do HARPS, bastante precisos, complementarão as imagens obtidas por uma quantidade de telescópios robóticos situados em todo o mundo.

Guillem, empolgado, declarou que "o fato de estarmos à procura de objetos tão pequenos com uma precisão tão extrema é verdadeiramente alucinante". Sem dúvida! O equipamento promete procurar agulhas no palheiro. Se pelo menos uma agulha estiver por lá, provavelmente será detectada.

O Física na Veia, via blog e fanpage, estará ligado nesse incrível projeto. Vamos juntos?

 

Pale Red Dot: por que esse nome?

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Consegue ver o "pálido ponto azul"? Aquele pontinho na risca dourada, acima, quase no meio.
[fonte: Voyager/NASA]

O Pale Red Dot faz alusão ao Pale Blue Dot ou Pálido Ponto Azul, livro escrito por Carl Sagan (1934-1996) inspirado na incrível imagem acima. Ela foi feita em 1990 pela sonda Voyager 1 e mostra como é o nosso planeta visto de uma distância de 6,4 bilhões de quilômetros. De tão longe, segundo Sagan, a Terra não passa de um pálido ponto azul. E, conferindo a imagem, não há como não concordar com ele.

Confira mais detalhes nesse post de 2013 quando a sonda Cassini fez outro registro da Terra vista de bem longe, lá das bandas do planeta Saturno.

 

Alfa Centauro: onde está o alvo

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Alfa Centauro (seta rosa) ao lado do Cruzeiro do Sul. [Fonte: Wikipedia]

Quando você olha para perto do Cruzeiro do Sul, duas estrelas bem brilhantes se destacam nas constelação do Centauro: Alfa e Beta do Centauro.

Alfa Centauro, também chamada de Rigel Centaurus, a mais brilhante das duas, a olho nu é apenas um ponto.

Ao telescópio, no entanto, é possível distinguir que Alfa Centauro é um sistema triplo formado por Alfa Centauro A, Alfa Centauro B e Proxima Centauro. Essa terceira, que é uma Anã Vermelha,  vista daqui da Terra é literalmente um pálido pontinho vermelho. E é ela que será vasculhada pelos pesquisadores do ESO na busca de exoplanetas terrestres.

Vale ressaltar que Proxima Centauro fica a 4,2 anos-luz da Terra, ou seja, toda a luz e toda a radiação eletromagnética por ela emitia demora 4,2 anos para chegar até nós viajando pelo espaço vazio a cerca de 300.000 km/s, a velocidade da luz no vácuo.

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Comparação de tamanhos relativos do Sol e do trio de Alfa Centauro. [Fonte: Wikipedia]

Da próxima vez que olhar para o céu e vir o Cruzeiro do Sul, repare ali por perto a dupla Alfa e Beta Centauro. Foque na Alfa, a mais brilhante. E pense: estou vendo uma imagem "velha", de como era essa região a pouco mais de 4 anos atrás. E nesse mundo distante, onde se esconde um pálido pontinho vermelho, talvez existam exoplanetas prestes a serem descobertos por nós.

Para ver

ESO Cast, em inglês


Para saber mais


Já publicado no Física na Veia!

Sobre o autor

Dulcidio Braz Jr é físico pelo IFGW/Unicamp onde atuou como estudante e pesquisador no DEQ – Departamento de Eletrônica Quântica no final dos anos 80. Mas foi só começar a lecionar física para perceber que seu caminho era o da educação. Atualmente, além de professor, é autor de material didático pelo Sistema Anglo de Ensino / Somos Educação e pela Editora Companhia da Escola. É pioneiro no Brasil no ensino de Relatividade, Quântica e Cosmologia para jovens estudantes do final do ensino médio e início do curso superior. E faz questão de dizer que, aqui no blog, é professor/aluno em tempo integral pois, enquanto ensina, também aprende.

Sobre o blog

"O Física na Veia! nasceu em 2004 para provar que a física não é um “bicho papão”. Muita gente adora física. Só que ainda não sabe disso porque trocou o conteúdo pelo medo. Se começar a entender, vai gostar. E concordar: a Física é pop! Pelo seu trabalho de divulgação científica, especialmente em física e astronomia, sempre tentando deixar assuntos árduos mais leves sem jamais perder o rigor conceitual, o Física na Veia! foi eleito por um júri internacional como o melhor weblog do mundo em língua portuguesa 2009/2010 pelo The BOBs – The Best of Blogs da alemã Deutsche Welle."